Sucessos e insucessos das parcerias com Angola
Ao longo destes últimos trinta anos foram estabelecidas várias parcerias empresariais, políticas e científicas, entre angolanos e portugueses, que se revelaram sempre como fortíssimas intenções de potenciar interesses nacionais e que, geralmente, no final apresentaram sustentabilidade duvidosa, para não dizer perfeitos fracassos.
Foi, assim, nas primeiras parcerias políticas, entre outras, com as diversas Associações do 25 de Abril, relativamente aos dois países.
O Embaixador António Pinto da França, refere, a determinada altura, no seu livro “Angola o dia-a-dia de um Embaixador”:
Pág 31
Luanda, 25 de Novembro de1983
“Os angolanos vivem “apaixonados” por Portugal, somos a sua obsessão. Mas, como em todas as paixões violentas, também nesta se confundem sentimentos de amor e ódio”.
Pág. 172
Luanda 27 de Abril de 1985
“ A Direcção está entregue a um grupo muito primário encabeçado por um indivíduo que, além de rudimentar, é azedo como o ar bilioso que logo revela, e se afirma numa canela esquálida que as peúgas, a descaírem sobre os sapatos, desvendam.”
Pág. 174
Luanda, 27 de Abril de 1985
“Foi eleque me resumiu o discurso do homem das peúgas. Depois de longamente acusar o Governo português de conspirar contra Angola”.
Recordo o português, ……, presidente da Associação 25 de Abril que se considerava mandatado, democraticamente, pelo povo português, que dizia que fazia, mas não fazia…
Foi, assim, nas pesquisas e explorações de petróleose diamantes, encabeçadas pelas duas maiores empresas portuguesas e pelas duas maiores angolanas, no âmbito destas actividades.
Parcerias falhadas e ultrapassadas pelos brasileiros, sul africanos, franceses, belgas, israelitas , espanhóis, etc.
Nas áreas científicas têm sido estabelecidas várias parcerias com Universidades, primeiro do Porto e ultimamente de Lisboa e Aveiro, nomeadamente no âmbito da Saúde.
Algumas parcerias têm decorrido razoavelmente, através da “mão forte” da Fundação Gulbenkian, particularmente a relativa à Telemedicina.
Ultimamente, foi estabelecida uma parceria entre uma Universidade de Lisboa, Universidade de Luanda e Hospital Universitário Américo Boavida, cujos objectivos são a investigação de doenças infecciosas e tropicais.
Liderada por um Prof. Catedrático, mantém-se, ainda, activa e sustentável graças à dedicação, vontade, ”carolice" e “teimosia” deste.
Como é regra habitual, o referido Prof. e líder do projecto, confronta-se com barreiras burocráticas e irresponsabilidades dos agentes envolvidos, nunca por “má fé”, mas sim, por todos serem “irmãos, bons rapazes, boas raparigas”.
Entre outras “pequenas”, “grandes” barreiras, dificuldades, jogos de paciência refiro o pedido de vistos na Embaixada de Angola em Lisboa (três a quatro semanas), a marcação da viagem nas linhas aéreas, o controlo burocrático de pessoas e bens no aeroporto de Luanda, alojamento, transportes, alimentação, etc.
Muitas destas barreiras têm que ser ultrapassadas com o envolvimento de um General amigo e dos seus súbditos, sempre com o espírito de ajuda e boa fé .
A carácter de exemplo, posso referir que, recentemente, disponibilizei a minha casa em Luanda, a cozinheira e o motorista, para três médicas que se deslocaram àquele país, no sentido de realizarem a sua grande paixão na investigação de doenças infecciosas, em prol de Angola, Portugal e resto do mundo, inseridas na referida parceria, entre as Universidades de Lisboa e Luanda.
Como sabemos, na década de 1960, Portugal foi líder no âmbito da investigação de doenças tropicais. Actualmente,está descredibilizado neste domínio e noutros…
O receio de doenças infecciosas e tropicais é o maior obstáculoao desenvolvimento da economia angolana, apesar das parcerias “a sério” com as grandes multinacionais de petróleos e diamantes, americanas, francesas, belgas, inglesas e sul africanas, que levamos seus médicos e instalam clínicas próprias
Naturalmente, que o petróleo e os diamantes são decisivos para a sobrevivência do mercado global em que Angola seinsere em termos geoestratégicos .
Já trabalhei em Angolacom o petróleo a 18/20, 8/10 USD,25/30, 50/60 e actualmente a 60/70 USD.
Até 1985, Angola pagou sempre muito bem os serviços à minha empresa portuguesa, bem como regularmente a todos os demais fornecedores internacionais.
Contudo, devido à crise do petróleo entre 1986-1990 para 8/10 USD, o Banco Nacional de Angola passou a pagar-me a três/quatro anos, quando anteriormente o fazia entre três e quatro semanas.
Nunca mais recuperou desta situação, apesar de, por um lado, ter contado com as intervenções do FMI, Club de Paris e outros Organismos internacionais reguladores das Finanças Públicas e, por outro, ter registado um grande aumento na produção do petróleo, sendo em 1986 de sensivelmente 600 000 barris/dia e hoje aproximadamentea um milhão de barris de petróleo dia.No futuro próximo tudo aponta paraque venha a atingir aproximadamente os dois milhões de barris de petróleo por dia.
Naturalmente que, no período de 1986-1990, Portugal beneficiou fortemente das situação do petróleo a 8/10 USD, embora tenham sido penalizadas gravemente as empresas portuguesas instaladas naquele país.
As próximas notas a publicar reflectirei mais especificamente sobre o mercado do “ouro negro”- petróleo - em Angola, o bem e o mal do mesmo.
Por ultimo, acrescento que o Prof. Catedrático mencionado atrás, actualmente com mais de 60 anos, regressou ontem de Luanda, pelas 6,00 horas da manhã e após ter ido a casa tomar banho e mudar de roupa, estava pelas 8,00 horas a ver os primeiros doentes no Serviço de Doenças Infecciosas, de um Hospital Público, onde desempenha funções com brio profissional e espírito de missão.
Autor
Miguel Maria, em 9/9/2005
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